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Quando a fita métrica toma o lugar da balança


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    Quem já conviveu, em plena estação chuvosa, com a dura tarefa de pesar bezerros recém-nascidos, vai gostar desta notícia. Por solicitação da Guaporé Pecuária S/A, que seleciona Nelore Mocho (Marca OB), os pesquisadores Arcadio de Loes Reyes, da Universidade Federal de Goiás, e Cláudio de Ulhôa Magnabosco, da Embrapa Cerrados, junto com técnicos da empresa, desenvolveram um novo método para obter dados de peso ao nascimento sem que o animal tenha que passar pela balança.

    Trata-se da medição do perímetro torácico, já utilizada em ovinos, caprinos, equinos, suínos e gado leiteiro, mas novidade em zebuínos. O trabalho de campo - a cargo dos técnicos da Guaporé Pecuária S/A Fernando Manicardi, Evandro Sproesser (veterinários) e Manuel Martinez Gomes (analista de sistemas) - confirmou a eficácia desse método de predição, que apresenta margem de erro de no máximo 10%, considerada aceitável pelos pesquisadores.

    A idéia de medir o perímetro torácico dos bezerros com fita métrica para aferir seu peso surgiu de necessidades prementes. Mais de 95% dos pecuaristas no país trabalham com números obtidos no "chutômetro". Observam o animal ao nascer: se ele parece pequeno, dão-lhe 28-29 kg; se tem tamanho médio, registram na ficha 30-31 kg; se apresenta aspecto mais graúdo, pulam para 32-35 kg.


    Dificuldades


    Por que não usam a balança? Por uma razão óbvia: é problemático pesar bezerros logo após o parto, principalmente na estação chuvosa, época de maior concentração dos nascimentos. Em grandes fazendas, o peão tem que separar a cria da mãe, colocá-la no cavalo, transportá-la por dois ou três quilômetros até o curral, muitas vezes debaixo de chuva, em meio ao barro. Além de cansativa para o funcionário, esta maratona deixa o animal estressado, sujeito a infecções, e a vaca em pé de guerra.

    "Com a mão-de-obra escassa e despreparada que temos, é melhor trabalhar com um método simples de aferição (veja quadro abaixo) em vez de esperar pacientemente que os fazendeiros resolvam seus problemas de manejo e pesem os bezerros ao nascer", argumenta Cláudio Magnabosco. Na maioria das vezes, nem mesmo selecionadores que participam de programas de melhoramento genético têm conseguido colher esse dado na balança para cálculo de DEPs (Diferença Esperada na Progênie) ao nascer. "Fazendas com 5.000 vacas em regime de acasalamento, por exemplo, convivem com 50 nascimentos diários no pico das águas. Imagine a confusão que seria levá-los até o curral para pesagem", salienta o pesquisador.

    Arcadio de los Reyes explica que o peso é uma função das dimensões corporais. Ou seja, animais grandes naturalmente serão mais pesados do que os pequenos.

    Das diferentes dimensões corporais testadas, o perímetro torácico tem se mostrado o melhor preditor individual do peso vivo, em qualquer estágio de crescimento em bovinos.

    Foram encontrados escassos resultados de estudos sobre essa relação em Bos indicus, e nenhum deles sobre o peso ao nascer em particular. "Provavelmente alguém já havia pensado em fazer isso, mas não levou a idéia adiante. A metodologia que desenvolvemos representa um avanço significativo, pois fornece pesos muito mais próximos da realidade do que um simples chute", comenta o professor.


    Importância Econômica


    Segundo Fernando Manicardi, a Guaporé Pecuária S/A, especializado na seleção de Nelore Mocho, investiu nas pesquisas com perímetro torácico, não só para facilitar o manejo a campo, mas porque se preocupa com o futuro da raça, reconhecida por sua facilidade de parto. "Desejamos fornecer, a nossos compradores de sêmen e touros, dados sobre DEP para peso ao nascer mais confiáveis do que os oferecidos pela grande maioria de selecionadores", salienta.

    A herdabilidade para essa característica é alta, observando-se variações entre filhos de diferentes reprodutores de até 8 kg. "Com a intensa seleção para ganho de peso, as crias estão ficando graúdas, principalmente em plantéis direcionados para exposições, nos quais matrizes são superalimentadas e se tornam campeões de pista os bezerros com peso ao nascer superior à média do rebanho", informa Manicardi.

    Essa prática ou tendência pode causar grandes prejuízos à raça, pois certamente ocorrerão problemas de parto, com aumento nos custos veterinários, maior mortalidade de matrizes e queda no índice de desmama/vaca/ano. A seleção por peso ao nascimento é recomendada, de forma geral, em bovinos de corte, sendo adotada pela maioria dos programas de melhoramento genético. "Os neloristas também devem se preocupar com esse item, objetivando preservar um dos diferenciais da raça que selecionam", reforça o pesquisador da Embrapa Cláudio de Ulhôa Magnabosco.


    Experimentos


    Os resultados obtidos nesse trabalho dizem respeito exclusivamente ao Nelore, já que as medidas variam de uma raça outra e, consequentemente, os parâmetros de aferição. Para chegar aos fatores corretos de conversão foram pesados e medidos 1.497 bezerros, nascidos entre dezembro de 2000 e novembro de 2001, procedentes de quatro rebanhos da Guaporé Pecuária S/A em Pontes e Lacerda, no Mato Grosso.

    A partir dos dados obtidos nesse levantamento e feito os ajustes necessários (considerando-se tipo de rebanho, mês de nascimento, idade da vaca ao parto, sexo do bezerro e grupo contemporâneo), constatou-se que, em média, o peso dos bezerros aumenta aproximadamente 700g por centímetro de acréscimo no perímetro torácico. Verificou-se também que em mais de 80% dos casos (independente do sexo), os valores preditos ficaram no máximo 10% acima ou abaixo do peso real ao nascer, que variou de 24 a 49 kg, para machos e fêmeas, na amostra estudada, conforme tabela abaixo.

    Ou seja, na maioria dos casos, o erro máximo da estimativa foi de mais ou menos 4,9 kg, não comprometendo as avaliações genéticas por DEP ao nascer.

    Os pesquisadores estão realizando esse trabalho também no rebanho Brahman da Guaporé Pecuária S/A, no qual acreditam que a incidência de peso alto ao nascer seja maior, pois se trata de uma raça de grande porte. Lembram, contudo, que o uso dessa metodologia em rebanhos diferentes dos estudados deverá ser monitorado com amostragens de pesos reais. Nas fazendas da Guaporé Pecuária S/A, a medição do perímetro torácico já está sendo feita em larga escala.

    "Hoje, nesse rebanho, estamos preferindo utilizar touros com DEP para peso ao nascer negativa, ou seja, abaixo da média da fazenda (34,8 kg para machos e 33,2 kg para fêmeas), pois assim evitaremos problemas futuros", informa o pesquisador Cláudio Magnabosco.

    Os números do experimento

    Médias, Desvios Padrões (DP) e Coeficientes das Variáveis (CV) estudadas segundo o sexo
    Característica Machos
    (743 obs)
    Fêmeas
    (754 obs)
      Média DP CV Média DP CV
    Perímetro torácico (cm) 75.3 4.1 5.4 73.8 3.8 5.2
    Peso nasc (kg) 34.8* 4.5 12.9 33.2* 4.3 12.9
    Peso Nasc Est (PNE kg) 34.8* 2.9 8.3 33.2 2.3 8.1
    Diferença (PNE - PN) -0.02 3.3 -- 0.04 3.3 --
    *Valores arredondados - fonte: Grupo Guaporé

    Como usar


    Nas fazendas da Guaporé Pecuária S/A, as medidas estão sendo colhidas com fita métrica comum e depois registradas no computador, que estima o peso ao nascer utilizando as funções de regressão já determinadas. Mas a empresa pretende confeccionar uma fita métrica especialmente para esse fim, já contendo os valores de peso em gado Nelore Mocho. Quando a fita estiver disponível para comercialização, facilitará a vida do produtor.

    A medição do perímetro torácico pode ser feita quando o peão vai ao campo curar o umbigo do bezerro, não atrapalhando em nada a rotina da fazenda. Trata-se de um procedimento rápido, que não agride o animal, deixando-o tranquilo no pasto.

    A fita deve ser colocada corretamente, na cernelha do bezerro, passando próximo às axilas e à extremidade posterior do cupim, conforme se pode visualizar na foto abaixo:




    Consulte-nos: vendas@marcaob.com.br